Friday, April 13, 2018

Naqueles tempos, era melhor prevenir. Porque se tivesse que remediar, você estava fodido.

Primeiramente vamos salientar que ninguém gosta de falar sobre remédios e quanto menos ainda, (Deus me livre) fazer deste assunto uma resenha de bar ou quando surge este assunto em almoços de família (que é melhor se enforcar do que ouvir). A não ser para hipocondríacos ou pacientes de alguma doença crítica que trocam informações, que aí sim (entre eles, claro) o assunto teria alguma relevância.

Aliás, aprendi que, uma coisa que não se pode fazer, ao cumprimentar aquela sua vizinha bem idosa e carente de família, é perguntar seguidamente de um bom dia, se "está tudo bem".
Não faça isso ! Você vai ouvir uma verdadeira palestra sobre enfermidades e ouvir o nome de uns 47 remédios diferentes. Mas posso te garantir, que ao ler esse post, você nunca mais vai achar interessante um assunto sobre remédios, como esse que vos escrevi. 

Como tenho por hábito "folhear" alguns periódicos antigos (folhear entre aspas porque são digitalizados), entre os anos de 1900 até algumas décadas em diante, o que mais me chama a atenção não são as matérias e fotografias dos almoços, comemorações, bailes de carnaval e domingueiras da sociedade mais abastada do início do século XX, mas sim as propagandas. Propagandas estas, em especial, da indústria farmacêutica.

Como todo periódico, por longas décadas do século XX, jornais e revistas eram abarrotados de propagandas dos mais diversos segmentos de vendas e serviços, era notória e predominante a exposição de remédios e cosméticos que prometiam trazer a beleza de volta e a cura milagrosa de todas aquelas moléstias comuns naqueles tempos. Por falar em moléstia (acho esse nome engraçadíssimo), fico imaginando eu, vivendo naqueles tempos, criado pela minha bisavó que era uma Italiana daquelas bem ignorantes e brabas e com seus xingamentos mais mirabolantes e risíveis que ela colocava nos netos,ao melhor estilo Italiano do sul da Calábria, seguido de um safanão e vociferando a mim: "Passa daqui, seu moléstia !!!!" Ao me pegar cometendo algum "delito sadio de infância"(leia-se fazer merda),como toda criança merdeira que eu um dia também fui.

Depois de algumas reflexões, fica claro o quanto diversos picaretas (porque o Brasileiro dá aula de picaretagem e "sete-unice" ao mundo como nenhum outro igual), quantos "Zé das Couves alavancaram a industria farmacêutica, em seus fundos de chácaras, nos porões de suas casas e" faturaram rios de Réis ou Vinténs fabricando unguentos, xaropes, cremes e compostos sob um rótulo com nome, por exemplo de "Óleo Prussiano do Dr. Schulbert para moléstias da pele".
Até porque nomes estrangeiros e nomes pomposos de lugares no exterior sempre seduziram o Brasileiro ignorante a comprar. Melhor estratégia de venda.

Então, vamos a algumas imagens desses produtos que prometiam beleza estética de volta e curas milagrosas para estas ... Moléstias ! (risos)


Primeiramente, vamos falar das mulheres, que provavelmente eram as maiores consumidoras desses produtos, já que um dos poucos lazeres que elas tinham, quando não estavam cuidando do lar, era ler jornais e revistas.

1 - O que dizer da revolucionária PASTA RUSSA, do Dr. G. Ricabal, que prometia seios firmes, desenvolvidos e formosos em apenas dois meses ?
Obs: Um sujeito com nome de Ricabal, pode entender de seios ???


Imagem: Jornal O estado de São Paulo, 1918
Confesso que fiquei até com pena das senhoras que levaram fé e compraram o produto.
Fico imaginando elas todos os dias se olhando no espelho,durante dois meses, e o marido ao final dizer que gastou dinheiro e continuou a mesma coisa, pois afinal de contas, era uma sociedade dominada por "Neandhertais" desprovidos de romantismo.

2 - Que tal falarmos do CREME POLLAH ? Que segundo a descrição da propaganda, as causas da "velhice e fealdade" das mulheres tinham solução. 
Obs: Fealdade é eufemismo para feiura.

Imagem: Revista O Malho, 1922

As letras da descrição estão pouco nítidas, mas através das descrições maiores e legíveis, dá para imaginar uma quantidade arrebatadora de vendas do tal Creme Pollah por aquelas moças e senhoras decididas a comprar o produto,principalmente,ao ler uma propaganda que era quase que "um tiro de canhão Soviético" na auto estima de qualquer mulher. Principalmente nas feias.

3 - Nenhum nome melhor, para atrair a todos os públicos femininos, como um remédio chamado: "A SAÚDE DA MULHER ". 

Imagem: Revista da Semana, 1924


Nome este sugestivo ao modo de ser quase que obrigatório a todas as mulheres o terem. Imagino até uma conversa intima entre mulheres em que uma diz a outra: "Minha filha, você precisa tomar A Saúde da Mulher para acabar com esta moléstia ! "
Um remédio que prometia a mocinhas e senhoras, mesmo depois dos 40 e 50 anos e já chamando as quarentonas e cinquentonas que hoje em dia dispõem da saúde de uma jovem,  naqueles tempos já condicionadas a serem velhas.
A Saúde da Mulher "combatia" cólicas uterinas, regras demasiadas, inflamações no útero e ovários, congestões, reumatismo e até mesmo "a obesidade proveniente de uma vida sedentária".

4 - As doenças não eram somente um tormento na vida daquelas senhoras, não. Também tinham as enfermidades masculinas e uma das propagandas que mais eram expostas naqueles prestigiados periódicos, eram remédios para as das chamadas "doenças secretas".  Pra isso, surgiu como"uma cura assombrosa" (escrito exatamente assim no anúncio), chamado ELIXIR DEPURATIVO 609.

Imagem: Revista O Malho, 1918

Segundo o Sr. Manoel Clementino Nascimento (o homem da foto), residente na capital da Bahia, se curou de uma "úlcera sifilítica", que vulgarmente é chamada de cancro duro e que inclusive esta "cura assombrosa" foi adotada pelo Exército Brasileiro pelo Excelentíssimo Senhor Marechal ministro da Guerra. E até agora eu não estou acreditando que o homem da fotografia colocou terno e gravata pra fazer propaganda de remédio pra sífilis.

5 - Mas ... Como remédio nunca foi garantia de cura, até mesmo em pleno século XXI, pelo visto o Elixir 609 não deu certo e lançaram "a maior descoberta para a sífilis", o ELIXIR 914 !

Imagem: Revista O Malho, 1922

Primeiramente, um dado curioso na descrição desta propaganda, onde diz que 95% dos homens "casados, quando solteiros" (ahã...quando solteiros), tiveram doenças secretas e acabaram ficando com elas crônicas.
Dá vontade de voltar no tempo, chegar na revista que publicou e dizer pro criador desta propaganda: "Vais dizer que tu nunca pegou moléstia comendo puta sendo o Sr. casado ??? Ainda mais neste tempo machista que tu vives ???" (Cara, eu tô muito esquerda)

Agora repare que entre 1918,quando surgiu o Elixir 609,até 1922 com o Elixir 914, passaram-se quatro anos e, pela minha fértil imaginação, presumo que foram produzidos e vendidos 305 versões de Elixir entre o 609 e o 914. Mas passados 305 experimentos (isso se não teve outros 608 antes do 609), o 914 chegou realmente pra acabar com esta porra maldita de moléstia chamada sífilis (agora vai !!!!!). Mas pelo visto, depois de 914 tentativas, o "perseverante" fabricante do Elixir acabou fechando as portas e certamente, o Sr. Manoel Clementino Nascimento, morador da capital Baiana, perdeu o pau pra sífilis antes de lançarem o 914.

6 - Houve também propagandas com gravuras das mais sem noção, como por exemplo, LAVOL.
Que fazia desaparecer, num curto espaço de tempo, dores ardentes, comichões, crostas duras, escamas (risos), feridas deitando água, erupções venenosas (que porra é essa?), espinhas e por fim, qualquer defeito da pele.

Revista O Malho, 1919

Repere que o rosto desenhado da propaganda contém centenas de erupções,como popularmente e vulgarmente chamaríamos hoje de: Rala-Coco, Reloginho, Solda Elétrica, Kikita, Bexiguento, Campo Minado, Cara de Areia Mijada e entre outros nomes de acordo com sua região e cultura.
Enfim, isso tudo era "curado" (de acordo com a gravura), uma simples derramada de Lavol na cara, e assim, todas as moléstias "sumiam" como num passe de mágica.

7 - Tinham também propagandas cujas gravuras assustariam qualquer criança que a visse, como era o caso do anúncio do xarope ALCATRÃO GUYOT. 

Revista O Malho, 1918

Imagina uma criança desesperada, na hora de dormir, depois de ver esta imagem assustadora, o pavor em saber que um parente em sua casa estava isolado no sótão ou no porão com os seres demoníacos  Tuberculose e Catarro que ele viu na revista ? 

8 - Falando em crianças, o que dizer do LACTOVERMIL, que segundo a propaganda, quase toda criança Brasileira tinha vermes, apesar da boa aparência.

Revista da Semana, 1924

Mas hoje em dia um título tão incisivo como "Salve seus filhos dos vermes", não chamaria mais a atenção das mães assim como o Lactovermil não sobreviveria até os dias de hoje.
Essas crianças de hoje não pegam mais vermes e alergias em parquinhos, pois agora os parquinhos são com areia anti-alérgica.
Assim como daqui a alguns anos vou poder chegar pra alguns adolescentes chatos, mimados, ao dizerem que "a melhor geração é a deles" e dizer: " Quem é você que nunca teve um verme quando criança pra falar da melhor geração ???"

9 - E seguindo na pegada dos vermes e outras moléstias (adorei essa palavra) do intestino, eis a propaganda do LAXANTE JUBOL, cuja gravura é de fácil e profundo entendimento. 

Imagem: Jornal O estado de São Paulo, 1939



Não dá pra ler, mas talvez teria uma descrição do tipo: Jubol tem "agentes limpadores e especialistas" em combater: Prisão de ventre, enterite, hemorroidas, dispepsia (what porra is this?)
e inclusive ... Enxaqueca !!!
Mas dentro da minha ignorância sobre conhecimentos médico, pergunto: O que tem a ver curar um órgão que tem muito mais ligação com cu com do que com o cérebro, pra dizer que também cura enxaqueca ? Deixa pra lá ...

10 - Vamos também deixar aqui postado,, uma propaganda que nos dias de hoje, seria certamente execrada pela patrulha do politicamente correto, em relação a pessoas acima do peso. Em 1923 (em periódico de fonte desconhecida), os fabricantes do tônico NEUROTONE lança o seguinte anúncio:
" A gordura é um mal.
Malditas banhas !
Lá perdi outro bonde ..."
Imagem: Extraída do site Propagandas Históricas

E aqui me furto de fazer qualquer tipo de comentário, pois vai que a patrulha do politicamente correto, ferrenha vigilante dos meios de comunicações sociais, resolve me execrar também.
Mesmo embora eu provasse que também estou acima do peso.

11 - E naqueles tempos já existiam garotos propagandas famosos por todas as gentes, como foi o caso do renomado e prestigiadíssimo poeta e jornalista, Olavo Bilac (como um Neymar garoto propaganda daqueles tempos), que se curou da tosse usando xarope BROMIL, em propaganda do Jornal do Brasil de 1912.

E junto à propaganda, ainda teve uma ligeira pontinha de palavras poéticas ao dizer que se curou de uma "bronquite pertinaz" após tomar Bromil. 
Mas morreu 6 anos depois, aos 53 anos.


12 - Por último,sabido pela maioria das pessoas e não poderia deixar de fora já que falamos em remédios de antigamente, a famigerada dupla, tão amada e ao mesmo tempo odiada pela sociedade: MACONHA E COCAÍNA, na farmacologia que fizeram parte da "cura" dos nossos ancestrais.
Fonte original desconhecida


Cigarros de "índios" da Grimault & Cia eram recomendados para quem sofria de: Asma, catarros, insônia (nisso eu acredito), até mesmo pra quem sofria de roncaduras (roncos) e  flatos (peidos).


Imagem: Extraída do site Smoke Buddies


13 - E pra fechar de vez essa patifaria toda, uma propaganda em que aparecem duas crianças fofinha brincando, enquanto o anúncio em questão era: DROPS DE COCAÍNA. 

Imagem: Extraída do site Portal História da Farmácia


Para curar dor de dentes (imediato), fatiga do corpo e da mente, anemia, neuralgia, desânimo, desalento, tudo isso por apenas 15 centavos e aconselha que o comprador recuse "substitutivos e imitações". E o detalhe mais importante, claro: Vendido em todas as drogarias. 






No comments:

Post a Comment